quinta-feira, 29 de maio de 2008

Helena Soares



Amor de vidro

Helena Soares

Nesta hora que pássaros voam noturnos
É ave-maria no ser que entranhas...
Quimeras para lembranças de feições e saudades
Jeito doído de ser gente esse que esconde sem esconder
Mostra no semblante gostares com vontade furtiva de abraçar
Falta prática para coisas que o coração dá de graça
Na distância lembrar com ponta de faca
Máscara para definir bravuras sem castigar
Trovões para tempestades e silêncios reticentes
Amor de vidro esse quebranto em febre para trabalheiras
Todo dia é dia de amar e trabalho dá
Lavar para ficar branquinho em festa passear
Mandar beijocas de sorrisos em batons se lambuzar
Ser só cuidado para esse vidro não quebrar
Quebrado já este falta emendar
Amor de vidro esse quebranto em febre para trabalheiras.



Helena Soares, atriz e poeta, filha de agricultores do norte de minas, mora em Belo Horizonte desde 1990. Formada em Artes Cênicas pelo Teatro universitário da UFMG, em seu currículo destacam-se os espetáculos dirigidos por: Wilson de Oliveira em ‘’Eu te amo ditadura’’ de Sérgio Abrita e ‘’O balcão’’ de Jean Genet; Kallú Araújo em ‘’Tartufo’’ de Moliére e Helvécio Guimarães em ‘’Pétalas da Solidão’’. Em 2006 lança seu primeiro livro de poesia ‘’Infrutescência’’ do qual extrai os poemas para a criação de um espetáculo teatral de mesmo nome. Em seus textos, Helena faz um mergulho no sertão mineiro trazendo à tona imagens, sentimentos, fragmentos de memórias vividas e observadas por ela, uma homenagem à mulher sertaneja com seus desejos, sonhos, dúvidas, etc. Ruminando inquietações ela diz: ‘‘A palavra não é só a grafia, é antes o desejo de ser, de existir’’. O espetáculo ‘’Infrutescência’’ traduz esses desejos, revelando em cena imagens e personagens que dialogam com o espaço/tempo, através de formas animadas e da linguagem performática. Cada personagem sugere uma reflexão quanto ao que aproxima e distancia o mundo urbano do mundo do sertão.

Espetáculo: ‘’Infrutescência’’

Direção: Carloman Bonfim

Atriz: Helena Soares
Choque
Poema do livro Infrutescência de (Helena Soares)

Desses momentos que não se olha nos olhos
Que as palavras estão prontas para saltar de pára-quedas
O silêncio salva vidas
Deus lá de dentro faz que sim
A vida tem que ser vivida e desvelada com descobertas a cada
milésimo de segundo
Enquanto pássaros vôam livres no céu há mais mistérios...
Pulsa em todas as células a vida
Vivos, viventes, viveiros...
Viveremos sempre? Conscientes da existência
Eternos Humanos
O espírito tem urgência de paz!
A vida é linda e segue com paciência e beleza de flôr de maracujá