Espetáculo quefala da mulher Contemporânea e suas inquietações, seus desejos, sonhos e dúvidas, seja ela urbana ou sertaneja.
Faz um mergulho no sertão mineiro trazendo à tona imagens, sentimentos, fragmentos de memórias vividas e observadas. Ruminando inquietações Helena Soares diz: ‘‘A palavra não é só a grafia, é antes o desejo de ser, de existir’’. O espetáculo ‘’Infrutescência’’ revela em cena a poesia de personagens que dialogam com o espaço/tempo, através de formas animadas, sons e da linguagem performática. Cada personagem sugere uma reflexão quanto ao que aproxima e distancia o mundo urbano do mundo do sertão.
Sinopse: Vivendo sob uma cultura repressiva na qual o corpo e o pensamento são objetos de vergonha, uma mulher se reinventa ao ganhar um livro. Vivenciando seus desejos, inquietudes e sonhos, através das palavras, imagens e sons essa mulher provoca reflexões sobre a vida.
Essa vontade de saber Esse tempo que passa e leva os dias contados marcados em relógios de parede Esse mel que lubrifica a garganta Esse suspiro que sai do fundo do peito em êxtase extremo Essa cara que tenho e que modifica sem que percebam Esse dia que eu não sou eu Essas fotos que estou alegre e se triste sorrindo assim mesmo pra não ficar feio Esse jeito de viver que não muda Essa boneca esquartejada cabeça quebrada braços e pernas perdidos na caixa de brinquedos Esse quebra cabeça interminável Mudo de fazer dó e música e poesia e cinema:Esse sonho vagaroso que corrói entranhas Essa visita na morada dos rins e coração que fosse não agüentaria tanta emoção Esse eu perverso de sentimentos e palavras em uma só letra H
Helena soares
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Vulto
Passarela de ferro enferrujado Lá em baixo e majestoso um urubu movimenta apenas o pescoço com autoridade Um urubu lindo foi de encontro a minha alma Numa velocidade que parecia ontem Só sei que fiquei ali parada olhando Ele é o rei Silêncio pensado Algumas palavras de sengrasseza ... Antes que as nuvens se chocassem de susto Bravo! breve a lição estava dada para sempre Como um vulto passou preto e fúnebre desafiando Eis que meu dia acabou...
HELENA SOARES
De mim mesma
Meu coração reclama o que me separa dos que amo de verdade Deus me deu treze irmãos vivos Alguns se foram e os que ficaram... Um abraço sufocado no peito grita esse amor que não se concretiza Nem de perto Nem de longe Oito mulheres e cinco homens e mais um que minha mãe pegou para criar O mais bem (sina) do de todos Mangas maduras comidas no pé Horas sem contar no relógio ouvindo o murmúrio do vento nas folhas Visto de longe o gado rumina o pasto de minha alma Brancos no sol de fazer pensamentos O arrozal dança e convida para a vida Leio livros de ouro nas asas dos mil pássaros A respiração esvai-se num único e harmonioso tom musical Sussurro do universo querendo-me inteira para realizar sonhos
Helena Soares
Ruminar
Ruminar não é coisa só de Gado... Prato de comida na mão Olhos fixos no tempo de ninguém Se pensava ou só ruminava? A boca mexia mobilizando um conjunto de músculos autômatos Uma tristeza de ser aquilo que se era... Se alimentava ou só comia? Olhando, era um réptil desses pré-históricos sem interesse pela vida moderna Se vivia ou só estava viva? Cansada de ruir Uma pessoa roendo a vida...
Helena Soares
Essa aí veio de onde as palavras são ásperas e sem significados exatos Um olhar te põe inteira pra dentro do casco da tartaruga e o peso e medo de sair dali Anda devagar essas pessoas que são parentes tem dentes afiados e mordem Essa vontade de abraçar e ser amada me furta a irreverência do pensamento Se sou eu mesma sou só Não posso ter nome nem carregar vergonha de outros Amo calada O que está preso dentro do peito alimenta o cachorro Deixa forte a lua e uiva nesse clarão que agora faz sentido na alma Naquele campo de algodão vi homens mulheres e crianças pesando arrobas brancas para dormir em catres duros de madeira e tostão que fosse Catar uma arroba é orgulho Esse algodão trago na alma Essa arroba tão branca e leve difícil de alcançar Esse capucho entre os olhos e dedos acariciados Por pouco fincados em pontiagudos gumes protetores Eu lá vendo o campo branco e saca nas costas e sol e marmita e suor Colhendo para pesar arrobas Uma que fosse Quinze quilos de algodão Muitos capuchos para quem tem pouca idade Uma alegria Uma conquista Uma lição :Tia pêdra fada madrinha completou minha única arroba Quinze quilos de sorrisos Ganhei asas brancas e não parei mais de sonhar